Saturado após overdose de boy bands nos anos 90, mercado volta a fervilhar com grupos como One Direction e The Wanted
One Direction no Clyde Auditorium, em Glasgow
São Paulo - No mês passado, a
banda britânica One Direction alcançou um feito histórico: foi a primeira vez
que um grupo ou artista do Reino Unido emplacou seu álbum de estreia, no caso o
dançante Up All Night, na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos, feita
pela revista Billboard. Nem mesmo os Beatles fizeram isso. Apesar de terem
conquistado a América, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo
Starr tiveram de galgar espaço aos poucos. O sucesso da One Direction pode ser
explicado pela internet, mídia que não existia no tempo do quarteto de
Liverpool: hoje, um grupo consegue construir uma base de fãs antes de lançar um
disco. Mas também pela febre que a banda capitaneia: os britânicos da One Direction
são expoentes de uma nova onda de boy bands, capaz de um frenesi como não se
via desde os anos 1990, a década de grupos como Backstreet Boys e N’Sync.
Quinta posição na Billboard 200,
lista que elenca os álbuns mais vendidos nos EUA, na última semana a banda One
Direction também atingiu o quarto lugar no Hot 100 da Billboard, o ranking das
músicas mais tocadas no país, com a faixa What Makes You Beautiful. Isso
significa estar à frente de artistas como Adele, Katy Perry e Rihanna. Na
Grã-Bretanha, o disco do grupo foi lançado em novembro e, em apenas dois meses,
vendeu mais de meio milhão de cópias. No mercado americano, onde saiu em março,
teve 176.000 cópias comercializadas só na primeira semana. O grupo também tem
lotado shows. Os ingressos para a apresentação que o 1D – como os fãs da banda
gostam de chamá-lo – faz em dezembro no Madison Square Garden, em Nova York, se
esgotaram em tempo recorde: um minuto após a abertura das vendas. O sucesso do
grupo é tamanho que uma banda americana, também chamada One Direction, abriu
processo contra os ingleses porque, após o sucesso do 1D nos EUA, os americanos
teriam sofrido “perdas irreparáveis”. Eles pedem 1 milhão de dólares.
A fórmula de sucesso da One
Direction é a mesma que projetou grupos vocais de meninos nos 90: rostos
bonitos e música pop não exatamente de qualidade. A banda foi formada na sétima
temporada de The X Factor, reality show britânico de revelação de talentos, em
2010. Os garotos não conseguiram se classificar como cantores-solo, durante os
testes para o programa, e foram aconselhados pelos jurados a formar um grupo
para unir forças – e talentos ralos. A banda terminou em terceiro lugar no
programa, mas o produtor musical linha-dura Simon Cowell, um dos jurados do
reality, sabia que os garotos poderiam fazer um estrago. Cowell já tinha visto
isso acontecer com o Westlife, grupo que contratou no fim dos anos 90, e
decidiu investir no One Direction. Menos de um ano depois, a fórmula provou que
ainda não havia se desgastado.
A fórmula de sucesso
da One Direction – e dos anos 90 – é também seguida pelo grupo The Wanted,
outra boy band britânica que já faz sucesso no mundo todo, inclusive no Brasil,
onde se apresentou no Z Festival em outubro passado. O festival, realizado no
Estádio do Morumbi, teve shows do grupo Cobra Starship e do cantor Justin
Bieber. Na terceira posição da Billboard Hot 100, The Wanted soma mais de
300.000 cópias vendidas de seu último disco, Battleground, lançado em novembro
na Grã-Bretanha. Na internet, o sucesso é maior ainda: o vídeo do hit Glad You
Came já tem mais de 35 milhões de visualizações no YouTube.
Emos e nerds
Mas nem só de topetes
com gel e rostos bonitos são feitas as novas boy bands. Esta geração permite
exceções bizarras como o trio Il Volo, composto por Piero Barone, Gianluca
Ginoble e Ignazio Borschetto, três garotos italianos – um galãzinho e dois
nerds – que cantam uma espécie de ópera pop e têm show marcado no Brasil para o
dia 8 de maio, no Teatro Bradesco, em São Paulo, com ingressos que vão de 100 a
350 reais.
Outra exceção é o
trio americano fun., atualmente no topo da Billboard. Embora tenha começado
como boy band emo, o grupo tenta aos poucos se desvincular do estilo para
abraçar o indie, também em alta. A virada veio com um grande plano de marketing
promovido por sua gravadora, a Fueled By Ramen, que envolveu a contratação do
renomado produtor Jeff Bhasket, especialista em produzir sucessos pop como os
da cantora Beyoncé, uma parceria a distância com a cantora soul Janelle Monáe
em We Are Young e um cover da mesma música feito pelo elenco da série Glee –
aliás, a primeira versão de uma música desconhecida do grande público feita
pelo programa, que é um dos mais populares entre os jovens americanos.
“Nós tínhamos muita vontade de trabalhar com Jeff, porque sabíamos que
ele tinha capacidade de nos transformar em um sucesso”, diz Andrew Dost,
instrumentista do fun. “Ele já trabalhou com muita gente e conseguiu agregar
bastante à nossa música”, afirma. Para Dost, o talento não foi responsável pelo
sucesso da banda, mas, sim, a sua gravadora. “Eles nos apoiaram muito.”
E aqui?
No Brasil, as novas
boy bands já estão fazendo sucesso entre os adolescentes. Segundo Leka Peres,
diretora do Top 10 MTV, programa que exibe diariamente os clipes mais pedidos
pelos telespectadores, as músicas de grupos como One Direction e The Wanted já
correspondem a 50% das solicitações do público do programa, composto
principalmente por meninas na faixa dos 13 aos 16 anos. Nessa semana, o One
Direction está em segundo lugar no Top 10, atrás somente da cantora teen Demi
Lovato. “As boy bands existem desde os anos 70, mas a música pop vive de
ciclos. As fãs do Backstreet Boys já cresceram, por isso, há uma demanda por
novas boy bands pelas meninas que estão hoje na adolescência”, diz.
Para o produtor
Marcos Boffa, curador de festivais importantes de São Paulo como o SWU e o
Planeta Terra, os artistas “teen”, ou seja, focados em adolescentes, têm
público expressivo no Brasil. “O Z Festival lotou o Estádio do Morumbi com
70.000 pessoas no ano passado”, lembra. Segundo Boffa, o mesmo festival deve
ganhar uma nova edição neste ano, com bandas e data ainda a definir.
DNA
Embora o rótulo “boy
band” tenha se popularizado nos anos 90 com bandas como Backstreet Boys, New
Kids on the Block, Take That, e, mais tarde, Five, N’Sync, e grupos afins, esse
formato é comum desde os anos 60, década que além de Jackson 5 e os Beatles,
teve The Monkees, banda fabricada pela televisão exatamente como o One
Direction. Já nos anos 70 e 80, fizeram sucesso grupos como Menudo e, no
Brasil, Dominó.
Para Paul Ralphes,
diretor artístico da Universal Music Brasil, o movimento das boy bands diminuiu
na América na década passada, mas nunca perdeu força na Grã-Bretanha e na
Europa. “Nos EUA, tornou-se comum o sucesso de artistas teen solo como Miley
Cyrus e Justin Bieber”, diz. Segundo ele, as boy bands dos anos 2000, como
Jonas Brothers e McFly, preferiram empunhar guitarras a cantar músicas pop em
coro. “Dá para argumentar que as bandas emo se tornaram as boy bands daquela
década, como o Simple Plan e o Good Charlotte”, afirma o executivo.
Se a história da
música pop é cíclica, a nova onda de boy bands também não deve durar muito.
Assim esperamos.
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